Era
tardinha em Brasília. O sol refletia em um feixe dourado sobre o Lago
Paranoá. A cidade estava calma depois de um vendaval político. Sentado
na cadeira de presidente da República, um senhor de topete branco
cafona, óculos de aros grossos e um leve sotaque mineiro.
Itamar Franco caia de paraquedas na cadeira de Presidente da República Federativa do Brasil. Era 1992. Mesmo cheio de afazeres, Itamar
aceita uma audiência em seu gabinete com um grupo de parlamentares,
dois deputados federais e um senador. O Brasil tinha acabado de ver
surgir como um raio e desabar como uma gangorra o mandato do
ex-presidente Fernando Collor. O país viveu intensamente todo o processo
de impeachment.
No Palácio do Planalto, o mineiro era de vez o chefe do Executivo,
não mais interino. Com sua delicadeza peculiar e sua voz baixa recebeu
calorosamente os parlamentares. Ele vieram fazer um pedido insólito.
- Recomendamos que vossa excelência feche o Congresso Nacional.
Itamar
arregala os olhos, parece não acreditar nos seus ouvidos. Foi pego de
surpresa. Pensou o quanto irônico era aquela situação: parlamentares
pedindo para fechar o parlamento.
- Perdão, acho que não entendi.
- Foi isso mesmo, senhor presidente. Recomendamos que o senhor feche o Congresso - disse um dos parlamentares.
Itamar ajeita os óculos e franze a testa. Ele tenta entender de onde surgiu essa ideia tão estapafúrdia.
- Meus amigos, gostaria de entender o porquê dessa decisão tão drástica. Qual é o sentido?
-
Senhor presidente, vivemos um momento grave. A corrupção é generalizada
nas duas Casas. O dinheiro público está indo para o ralo. São poucos
que ainda não entraram no esquema. É vergonhoso. Os atuais parlamentares
fazem parte de uma organização criminosa.
Pálido, Itamar ajeita o topete com a
mão direita. Bate com a caneta duas vezes contra o papel em sua mesa e
tenta deglutir em sua mente as informações passadas. O que fazer?
-
Vossa excelência, como novo presidente da República tem que tomar uma
atitude firme já. Esse é o único meio para depurar o parlamento
brasileiro.
De sopetão, o mineiro de Juiz de Fora respondeu:
- Não posso fazer isso.
- É o seu dever como chefe da nação.
Um outro parlamentar continua.
- Acabamos de derrubar um presidente corrupto. Vossa excelência é um homem honesto.
O homem vira a cabeça para os lados, põe um das mãos na boca como se tivesse limpando. Itamar começa a suar. Nunca recebeu uma proposta tão ousada em sua vida. A modelo Lilian Ramos ficaria com inveja.
- Sou honesto mas não autoritário. Não vou fechar o Congresso
Nacional. Sei há problemas, mas não vai ser fechando que iremos
resolver. Eu lutei contra a ditadura, exatamente por isso não pretendo
virar um déspota. É através da democracia que esses problemas irão se
resolver.
Um deles tentar intervir.
- Mas presidente, isso vai demorar... Precisamos de uma ação já!
- Que demore o tempo necessário. O parlamento é fundamental em um país democrático. O governo vai dar todo apoio necessário para que ele continue funcionando. Não vou discutir mais isso.
Meses depois estoura a primeira grande crise no Congresso Nacional, a CPI dos anões do orçamento. A primeira de muitas.
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