domingo, 24 de novembro de 2013

O mineiro e o fechamento do Congresso Nacional

Era tardinha em Brasília. O sol refletia em um feixe dourado sobre o Lago Paranoá. A cidade estava calma depois de um vendaval político. Sentado na cadeira de presidente da República, um senhor de topete branco cafona, óculos de aros grossos e um leve sotaque mineiro.
Itamar Franco caia de paraquedas na cadeira de Presidente da República Federativa do Brasil. Era 1992. Mesmo cheio de afazeres, Itamar aceita uma audiência em seu gabinete com um grupo de parlamentares, dois deputados federais e um senador. O Brasil tinha acabado de ver surgir como um raio e desabar como uma gangorra o mandato do ex-presidente Fernando Collor. O país viveu intensamente todo o processo de impeachment.

No Palácio do Planalto, o mineiro era de vez o chefe do Executivo, não mais interino. Com sua delicadeza peculiar e sua voz baixa recebeu calorosamente os parlamentares. Ele  vieram fazer um pedido insólito.

- Recomendamos que vossa excelência feche o Congresso Nacional.

Itamar arregala os olhos, parece não acreditar nos seus ouvidos. Foi pego de surpresa. Pensou o quanto irônico era aquela situação: parlamentares pedindo para fechar o parlamento.

- Perdão, acho que não entendi.

- Foi isso mesmo, senhor presidente. Recomendamos que o senhor feche o Congresso - disse um dos parlamentares.

Itamar ajeita os óculos e franze a testa. Ele tenta entender de onde surgiu essa ideia tão estapafúrdia.

- Meus amigos, gostaria de entender o porquê dessa decisão tão drástica. Qual é o sentido?

- Senhor presidente, vivemos um momento grave. A corrupção é generalizada nas duas Casas. O dinheiro público está indo para o ralo. São poucos que ainda não entraram no esquema. É vergonhoso. Os atuais parlamentares fazem parte de uma organização criminosa.

Pálido, Itamar ajeita o topete com a mão direita. Bate com a caneta duas vezes contra o papel em sua mesa e tenta deglutir em sua mente as informações passadas. O que fazer?

- Vossa excelência, como novo presidente da República tem que tomar uma atitude firme já. Esse é o único meio para depurar o parlamento brasileiro.

De sopetão, o mineiro de Juiz de Fora respondeu:

- Não posso fazer isso.

- É o seu dever como chefe da nação.

Um outro parlamentar continua.

- Acabamos de derrubar um presidente corrupto. Vossa excelência é um homem honesto.

O homem vira a cabeça para os lados, põe um das mãos na boca como se tivesse limpando. Itamar começa a suar. Nunca recebeu uma proposta tão ousada em sua vida. A modelo Lilian Ramos ficaria com inveja.

- Sou honesto mas não autoritário. Não vou fechar o Congresso Nacional. Sei há problemas, mas não vai ser fechando que iremos resolver. Eu lutei contra a ditadura, exatamente por isso não pretendo virar um déspota. É através da democracia que esses problemas irão se resolver.

Um deles tentar intervir.

- Mas presidente, isso vai demorar... Precisamos de uma ação já!

- Que demore o tempo necessário. O parlamento é fundamental em um país democrático. O governo vai dar todo apoio necessário para que ele continue funcionando. Não vou discutir mais isso.

Meses depois estoura a primeira grande crise no Congresso Nacional, a CPI dos anões do orçamento. A primeira de muitas.

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