Os recentes protestos em Kiev na Ucrânia exigindo que o
governo se afaste da influência russa e foque na Europa Ocidental lembra o
passado. Os ucranianos chegaram até derrubar uma estátua de Lênin, o pai da
revolução russa. Para eles, a Rússia é nociva aos interesses nacionais e é vista
como uma ditadura comandada por Vladimir Putin. Essa história toda parece muito o que aconteceu no
tempo da Guerra Fria. Lá pelos anos 50 e também em um país do Leste Europeu.
A cidade estava em polvorosa nos dias de outubro e novembro
de 1956. Centenas de milhares de pessoas nas ruas de Budapeste gritavam
palavras de ordem.
- Russos voltem pra casa!
As mentes em torno de uma só ideia: acabar com a terrível
influência soviética na Hungria. Na verdade quem mandava no país eram os
camaradas de Moscou.
O ápice da revolta
foi a derrubada de uma estátua de Josef Stalin em uma das principais praças da
capital. Algum gaiato pichou as iniciais WC no rosto já destruído após vários
pisões e chutes dos moradores enfurecidos. O Exército Húngaro não fazia nada,
chegou até a apoiar o povo.
Nesta época, a Rússia vivia em processo de desestanilização
promovida pelo novo secretário geral do Partido Comunista, Nikita Kruschev. Ele
parecia abrir aos poucos a URSS para uma espécie de democracia bolchevique.
Abriu-se então a brecha para os revoltosos, em
sua grande maioria composta por estudantes. Eles exigiam o fim da ocupação
soviética e a implantação do "socialismo verdadeiro". O povo não
queria mais ser governado pelos conservadores Enro Gero e Matias Rakosi. Eles
eram visto como capachos de Moscou. O povo queria o
nacionalista Imre Nagy, e gritava por seu nome. A vontade
popular se fez e Nagy assumiu o governo. Uma vitória retumbante e
extraordinária, mas que durou pouco tempo.
Nagy foi à rádio e comunicou uma série de
mudanças democráticas, como a instalação do multipartidarismo, a extinção da
polícia política, a melhoria radical das condições de vida do trabalhador e a
busca do socialismo condizente com as características nacionais da Hungria. O
país chegou até a sair do Pacto de Varsóvia.
O Kremlin inicialmente e de maneira estranha aceita todas as resoluções húngaras e até retirou suas tropas do país.
Na verdade Nikita Kruschev estava furioso e socava a mesa de seu gabinete. Tentou se acalmar arremessando o sapato do pé esquerdo contra a parede.
- Acabem com esta palhaçada!
Kruchtchev
e a direção do Partido soviético, apesar das suas promessas públicas, logo
decidiram impedir que o país saísse da influencia da União Soviética. Na cabeça
dos russos, aquilo era uma afronta. Na madrugada de 4 de novembro, com a
desculpa de supostas negociações, a KGB preparou uma armadilha aos dirigentes
húngaros. A seguir, aproximadamente 2500 tanques e 100 mil soldados do Exército
soviético invadiram a Hungria. Às 5 horas e 20 minutos, a Rádio Nacional Livre
começou a transmitir um comunicado dramático: “Aqui fala Imre Nagy...Esta
madrugada as tropas soviéticas iniciaram um ataque contra a nossa capital com a
clara intenção de derrubar o Governo legítimo e democrático da Hungria. As nossas
tropas estão a lutar! O Governo mantém-se no lugar...”
Quando os estudantes tentaram resgatar alguns colegas que haviam sido presos pela polícia política, esta abriu fogo contra a multidão.
O Exército Vermelho invade Budapeste, com mais de mil tanques, com o apoio de ataques aéreos e bombardeamentos de artilharia, derrotando em alguns dias as forças húngaras. Calcula-se que 20 000 pessoas foram mortas durante a intervenção soviética. Nagy foi preso (e posteriormente executado) e substituído no poder pelo simpatizante soviético János Kádár. Mais de 2 mil processos políticos foram abertos, resultando em 350 enforcamentos. Dezenas de milhares de húngaros fugiram do país e cerca de 13 mil foram presos. As tropas soviéticas só deixaram verdadeiramente a Hungria em 1991.
Em Moscou Kruschev coçava a careca aliviado. Ele que havia
se transformando em um anti-Stalin acabou agindo de maneira mais cruel do que seu
antecessor. O camarada retira seus óculos e olha com atenção para a lente e
pensa.
- O que Stalin faria no meu lugar?
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