A NATUREZA - Vê como reverdeço! Vê a pompa da da minha seiva! As árvores
rebentam de sangue verde, as folhas brilham de um brilho novo, e o
desenho dos ramos no azul é uma apoteose!
O HOMEM - Dá-me uma limonada!
A NATUREZA - Tudo é forte, tudo é violento, tudo é brutal. Quando faz o
luar, a luz é tanta que alaga, inunda, invade, alastra. A terra se
afoga num oceano mel dourado. Quando faz sol, tudo é ouro, tudo é azul. E
as tempestades, com ribombos dos trovões, relâmpagos e vendavais...
O HOMEM - Abre o ventilador.
A NATUREZA - Não há canto no mundo, onde a glória de viver seja assim
esta exaltação de cores, essa corrente de fogo da vida impetuosa.
O HOMEM - Mais gelo! Mais gelo!
A NATUREZA - Ainda nenhum ser humano cantou este momento único de minha formação de vida.
O HOMEM - Quantos graus à sombra, meu Deus!
A NATUREZA - O verão é o instante paradisíaco...
O HOMEM - Em que o anjo expulsou Adão com a espada de fogo. Dá-me água!
....
A NATUREZA - O calor é a saúde.
O HOMEM - Dá-me água! Não tenho ânimo de erguer os braços. O calor é o castigo deste paraíso!
trechos da crônica 'Opiniões de calor' de João do Rio sob o pseudônimo Joe
DATA: 05/02/1916
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